Hermes Trimegisto tinha uma prudência muito grande no que refere à atribuição de nomes a Deus, segundo ele, se Deus é o Todo qualquer nome que lhe seja dado vai inevitavelmente limitá-lo. Ora, por definição, o Todo não pode ser limitado, pois deixaria de ser absoluto e o Todo é absoluto.

Assim, para Hermes, o nome de o Todo representa todos os diversos deuses conhecidos e desconhecidos, é uma opção feliz que procura incluir e abranger tudo e não limitar nada. Os Maçons fazem também isso mesmo, com a utilização do Grande Arquiteto do Universo(1).

Seja qual for a nossa opção, ela está contemplada no Todo (é o Uno, por acepção), é uma visão unificadora que nos permite resolver também muitos dos problemas que advêm da diversidade daquilo em que acreditamos. Se eu negar aquilo em que os outros acreditam, então eu estou a negar também aquilo em que eu acredito.

Não há partes de um Todo, o Todo é Uno. Para os Hermetistas, trata-se de facto de um bom nome, porque ele resolve e luta contra os “fantasmas” que perseguem os seres humanos ao longo da história, que se traduzem, tão simplesmente, na projecção do seu egoísmo nas coisas em que acreditam.

Noção de realidade, na antiguidade a realidade era aquilo que perdurava no tempo, o espírito era real, já a matéria era apenas uma representação, um “teatro”, que existia e deixava de existir, logo não era real. Esta noção de realidade, actualmente, é totalmente ao contrário, o real passou a ser a matéria, o espírito passou a ser irreal. Como não temos a possibilidade de fotografar o espírito, para nós, ele não existe, só o que é “palpável” existe na actualidade. Abandona-mos a valorização daquilo que perdura no tempo, aquilo que é imutável, o que é transversal e sempre aplicável a tudo o que existe, as chamadas leis universais.

O Todo é uma infinita “mente vivente”, que os sábios chamam de “espírito”.

Espirito, alma e corpo, conceito indiano (exemplo do Sutratma), imaginem um colar de pérolas, em que cada uma é um ser vivo, atentem a uma dessas pérolas, ela está lá colocada no colar para brilhar, para ser a mais brilhante de todas, mas a dada altura ela sente a necessidade de encontrar a sua essência, algo mais duradouro e profundo, como ela só está habituada a ver o seu brilho (ou seja, a sua parte material), quando ela olha para dentro de si encontra um vazio, ela não consegue encontrar a sua natureza, o seu fio. Mas, de tanto tentar, ela vai acabar por ter uma pequena visão, ela vai começar a ver um pequeno fio que passa por dentro dela e vai dizer “… eu encontrei a minha essência, eu sinto-me completa”. A dada altura, ela vai olhar para o seu lado e vai pensar como gostaria que também as outras pérolas encontrassem a sua essência, por fim, com o decorrer do tempo, a nossa pérola vai perceber que o tal fio é o mesmo que passa por dentro de todas as pérolas, é apenas um e é sempre o mesmo.

Ou seja, a pérola é o Corpo, a pequena parte de fio que passa por dentro dela, que a anima, é a Alma e o fio como um todo, o Espírito. Espiritualmente não seremos muitos, apenas um só, crescer espiritualmente é aproximarmo-nos da unidade (realidade). Se crescemos espiritualmente já não vemos apenas uma pequena parte do fio, mas sim o fio pela sua totalidade, que nos une a todos os seres e que é um apenas.

Por isso, para os Hermetistas faz todo o sentido que a noção de Deus, seja ele qual for, tenha como sinonimo o Todo, sendo importante perceber que crescer espiritualmente nunca será perceber uma pequena parte do fio, mas sim, o fio como um todo.

É neste “espírito”, e enquadramento, em que as Leis Universais de Hermes Trimegisto deverão ser lidas e interpretadas.

O Todo está em tudo, o criador está na manifestação e esta não esgota o criador. Enquanto tudo está no Todo, é também verdade que o Todo está em tudo. Aquele que compreende realmente esta verdade alcançou o grande conhecimento.

Se reparamos na obra de Shakespeare, ela é um aspecto dele, mas não o esgota. Otelo, Romeu, Hamlet, Macbeth, etc., todos são aspectos de Shakespeare, não poderia ser de outra forma uma vez que todos saíram de “dentro” dele. Mas, os mesmos, não são Shakespeare, nem a sua soma é Shakespeare, esta fica sempre aquém, ele é mais que a soma de todas as suas personagens.

Cada ser é um aspecto do divino, fazendo alusão à lenda de Osíris, cada ser que se perca será como uma parte do corpo deste que não é encontrada.

 

(1) Para os Maçons de Memphis-Misraim o Grande Arquiteto de Todos os Mundos.

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