“O Ministério de Antiguidades do Egito anunciou recentemente uma descoberta inusitada no litoral do país: uma escultura de cabeça em cristal de rocha de mais de 2 mil anos que representaria o general romano Marco Antônio. O artefato estava junto aos restos de três barcos romanos e uma nave votiva egípcia dedicada ao deus Osíris no fundo da Baía de Abu Qir, no delta do Rio Nilo, a cerca de 30 quilômetros a Nordeste de Alexandria. No mesmo local, em 2000. o arqueólogo francês Franck Goddio encontrou submersas as ruínas da antiga cidade portuária de Heracleion.

Apelidada de “Atlântida do Egito”, Heracleion — também conhecida pelo nome egípcio Thonis — foi fundada pelos gregos entre os séculos XII e VIII a.C. e funcionou durante centenas de anos como o principal porto de entrada e saída do país até a fundação por Alexandre, O Grande, em 331 a.C., da vizinha Alexandria. Mesmo assim, continuou muito movimentada até que alterações na foz do Nilo, conjugadas com o que se acredita ter sido uma série de desastres naturais, entre elas epidemias e fomes, acabaram por fazê-la desaparecer sob as águas do Mediterrâneo por volta do século VIII d.C..

A existência de Heracleion-Thonis tornou-se então quase que uma lenda, restrita a relatos como os do historiador grego do século V a.C. Heródoto sobre um grande templo construído onde o herói grego Héracles — popularmente conhecido pelo nome em latim Hércules, e a quem em homenagem foi batizada — teria pisado pela primeira vez no Egito, ou raras inscrições em terra firme, até ter sido encontrada por Goddio a cerca de 6,5 quilômetros do que é hoje o litoral do país. Assim, de lá para cá, a região se tornou um dos mais ricos sítios arqueológicos submersos do planeta, com descobertas ligadas a várias culturas mediterrâneas, destaca Antonio Brancaglion, professor e pesquisador do Museu Nacional, no Rio, onde também é curador da coleção egípcia.

— Heracleion era uma cidade muito cosmopolita e por isso temos achados arqueológicos lá de várias culturas do Mediterrâneo — conta. — Isso porque, mesmo depois da fundação de Alexandria, ela se manteve muito ativa, ajudando a levar o Egito, uma grande fonte de riqueza nesta época para gregos, e depois romanos, para o resto do Mediterrâneo.

Segundo Brancaglion, embora esculturas em cristal de pedra não sejam incomuns para a época, o que faz com que o busto encontrado também não seja exatamente raro, o fato dele estar praticamente inteiro é um tanto inesperado.

— O cristal de rocha não é dos materiais mais frequentes para esculturas, pois é muito frágil e difícil de ser trabalhado, o que também não permite uma conservação muito boa — destaca. — Assim, embora este tipo de escultura não seja algo desconhecido entre os egípcios e outros habitantes da região na época, sua descoberta é de certa forma até surpreendente.

Além da “cabeça de cristal”, os arqueólogos acharam na área três moedas de ouro com a efígie de Augusto, primeiro imperador romano. Nascido Caio Otávio, ele era sobrinho-neto de Júlio César, que o tomou como filho adotivo indicou como herdeiro. Ao lado de Marco Antônio e Marco Emílio Lépido, ele integrou o Segundo Triunvirato, que derrotou os assassinos de Júlio César, morto em 44 a.C.. Após a vitória, Marco Antônio foi para o Egito se juntar à amante, e governante do país, Cleópatra. Lá, entrou numa guerra pelo poder com Caio Otávio. Derrotado e encurralado, Marco Antônio cometeu suicídio em 30 a.C., segundo a lenda acreditando que Cleópatra também havia se matado, o que ela de fato teria feito pouco depois.” (Fonte: O Globo)

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