“Bem-vindos ao Megalaiano ou Idade de Meghalaya, um “novo” capítulo da história da Terra que os cientistas acrescentaram agora à Tabela Cronoestratigráfica Internacional.
O que é esta tabela? É uma forma de organizar as várias eras, períodos e idades dos 4600 milhões de anos da história geológica da Terra. O que os investigadores vêm agora dizer é que há um novo capítulo, que começou há 4200 anos, e que vai começar a aparecer nos manuais escolares e nas salas de aula.
Este novo capítulo que agora é acrescentado será o o Megalaiano ou Idade de Meghalaya (na tabela já divulgada em inglês é Meghalayan Age), uma referência ao sítio na Índia onde foram encontradas as estalagmites que definem o que os investigadores consideram o início desta nova fase.
A tabela é da responsabilidade da IUGS (União Internacional de Ciências Geológicas), que anunciou as novas subdivisões do Holocénico, a época do período Quaternário em que vivemos. Esta época está agora dividida em três fases: em inglês, “Greenlandian”, “Northgrippian” e “Meghalayan”, que podem ser traduzidos como Gronelandiano, Nortegripiano e Megalaiano, respetivamente.
A fronteira de cada uma é definida, no Holocénico, por um evento climático marcante, embora os métodos e eventos-chave selecionados para defini as divisoes sejam variáveis, explica a professora universitária Ana Cristina Azerêdo, da Faculdade de Ciências das Universidade de Lisboa.
“A base do Holocénico corresponde ao início de fase de aquecimento subsequente ao fim do último período glaciar, tendo sido determinada a partir de parâmetros geoquímicos medidos no gelo de sondagens realizadas na Gronelândia e complementada com dados geoquímicos e micropaleontológicos obtidos em sondagens de sedimentos lacustres e oceânicos, que evidenciaram com precisão o nível que regista os sinais dessa mudança para o clima dos últimos 11 700 anos”, explica a docente. A segunda fase, Nortegripiano, também foi delimitada em sondagens do gelo da mesma região. E para a mais recente, “o limite inferior foi datado a partir de estalagmites (depósitos calcíticos em grutas) numa zona da Índia, correspondendo também a alteração climática, que influenciou a evolução das civilizações humanas”.
A Idade Meghaliana começou há 4200 anos com uma seca catastrófica e um período de arrefecimento, cujos efeitos duraram dois séculos e afetaram civilizações como o Antigo Egito. É única, defende o geólogo Stanley Finney, da IUGS, em declarações à BBC, no sentido em que este evento climático produziu alterações nas civilizações humanas.
A mudança acontece numa altura em que há uma discussão acesa na comunidade científica sobre se a Terra entrou numa nova era geológica, que tem sido chamada de Antropoceno e que terá começado no século XVI. A palavra Antropoceno é aqui usada para dar conta da altura em que a espécie humana se tornou uma força com um impacto no planeta que já não passa despercebido.
Ou seja, as divisões do Holocénico surgem numa altura em que os cientistas discutem se já abandonámos esta era. Assim, no meio deste debate, há investigadores que acham que a revisão da tabela e introdução destas novas idades não foi devidamente aprofundada, como o geógrafo Mark Maslin, que criticou a decisão, em declarações à BBC.
Em reação à polémica, a IUGS lembrou, no Twitter, já esta quarta-feira, que as novas fases foram propostas pela Comissão internacional de Estratigrafia, numa equipa liderada por Mike Walker da Universidade de Gales, e aprovadas pela IUGS, “após muito debate”. Lembrou também que quando a proposta foi aprovada pela subcomissão do Quaternário, o presidente do grupo de trabalho do Antropoceno era subcomissário daquela comissão.” (Fonte: DN)